Sexualidade Infantil

Sexualidade Infantil

O tema da sexualidade infantil se mostra um tabu ainda hoje e, muitas vezes incomoda a família, pois tira os pais de uma zona de conforto, os colocando em uma situação de dúvida e até insegurança. Porém, a sexualidade faz parte do desenvolvimento humano e a conscientização sobre o próprio corpo e as formas de relacionamento devem ser tratados desde pequenos, pela exploração, vivências e aprendizados.

Apreciar a textura de um sorvete, sentir relaxamento em uma massagem, ou desfrutar de um beijo se relacionam com o prazer do corpo e estão ligados à sexualidade, o que muitas vezes se confunde com o erotismo e as relações sexuais. Ainda que esse processo se estenda pelo resto da vida ele tem início na infância, desde o nascimento no ato de mamar. Genericamente é possível separar as fases do descobrimento em três etapas: a dinâmica das relações afetivas, o prazer com o corpo e a identificação de gênero.

A sexualidade infantil é tratada a mais de 100 anos e um dos pioneiros foi o psicanalista Sigmund Freud, que chocou a sociedade da época, rompendo com o paradigma da criança inocente, assexuada. Ele mapeou e desenvolveu diferentes fases nesse campo. A fase oral, que se dá até os dois anos, na qual os pequenos concentram na boca a maior parte das sensações de prazer (mamar e chupeta). Após, a fase anal, na qual a criança começa a controlar o esfíncter e as sensações de eliminar fezes e urina, no processo de largar as fraldas. Por fim a própria exploração das partes genitálias, período que ocorre geralmente entre os 3 e 5 anos. Essa preocupação vai diminuindo e as questões da sexualidade ficam em plano secundário, gerando um período de latência até o início da puberdade, quando essas preocupações retornam.

Durante todo esse processo de vivência e experiências surgem dúvidas nas crianças e junto com elas as perguntas para resolverem seus “mistérios” pessoais. É comum, por exemplo, uma criança pequena perguntar se tem “pinto” ou “perereca”, causando desconforto e constrangimento nos adultos. Isso explicita a identificação das diferenças do corpo entre homem e mulher por meio da visualização, o que geralmente vem junto com a investigação manual, pela experimentação do toque em diferentes partes do próprio corpo e no de outras crianças, sejam do mesmo sexo ou oposto. Também fazem parte dessas experiências beijos, abraços acompanhados de risos e cócegas. Nessas horas é importante responder as perguntas das crianças de maneira exata e direta, sem antecipar dúvidas. Assim, é possível garantir que elas tenham acesso a informação à medida que as questões façam sentido para elas. Essas interações e relações dão as crianças referência a sua própria identidade. Interagindo com amigos elas percebem a si mesmas. O prazer dos vínculos afetivos e das interações sociais se dão em paralelo com das relações amorosas entre casais. Para compreender essa realidade de mundo elas utilizam de recursos da fase em que vivem como imitações e faz de conta.

O espaço escolar e a escola também têm um papel muito importante nesse processo. Nele ela lida com a questão das diferenças físicas e igualdade de gênero, aprendendo o respeito à diversidade e quebra de clichês e paradigmas. A escola deve explicitar as regras da sociedade em que estão inseridas e a importante diferença entre o público e privado, garantindo que as crianças não sejam repreendidas por determinados atos como por exemplo a masturbação, mas sim ensina-las que ali não é o lugar correto para aquilo.

Trata-se de um enorme desafio, preservar a intimidade e não culpabilizar as crianças por manifestações de sexualidade. É um processo educativo que aborda valores, diferenças individuais e grupais, de costumes e de crenças.

Fonte: Revista Nova Escola