MORDIDAS - APRENDIZAGEM OU AGRESSIVIDADE?

MORDIDAS - APRENDIZAGEM OU AGRESSIVIDADE?

A mordida é uma forma de agressividade? O meu filho está se tornando violento? Por que as crianças mordem tanto?

Essas e outras perguntas são constantemente feitas pelos pais, e, de uma forma simples, Ana Maria de Araújo Mello e Telma Vitória, respectivamente, chefe técnica e psicóloga da creche do Campus de Ribeirão Preto, elaboraram este manual.

Entregamos a vocês pais, esta contribuição, como forma de esclarecimento e orientação sobre este assunto, que numa fase da vida da criança traz tantos questionamentos.

Ninguém gosta que seu filho seja mordido e, no geral, a família inteira se sente agredida ou preocupada quando seus filhos são mordidos ou mordem alguém. Querem saber quem são os mordedores e, às vezes, sentem-se culpados por deixá-los ainda pequenos, em instituições que tenham tantas crianças desta faixa de idade.

Por isto, é interessante que possamos aprender alguma coisa sobre a mordida: será que é um problema sério? O que significa a mordida?
Antes de qualquer coisa, é bom lembrar que é pela boca o primeiro contato que uma criança tem com o mundo! Você já reparou em um bebê de quatro meses? Ele leva as mãos e objetos até à boca. Por que será?

Para conhecer um objeto o bebê precisa ter experiências com ele. E, nesta idade, o que ele sabe fazer é levar o objeto à boca.
As experiências individuais de cada criança frente às situações de vida também influenciam.
Por exemplo, a maneira como ela experimenta e reage ao sentimento de ciúme, a busca de atenção ou exclusividade. A vida em comunidade promove, muitas vezes, estas experiências.

A criança também pode se utilizar da mordida como reação agressiva a algum sentimento que está sendo impedido de se manifestar.
Tornar-se ou não um mordedor depende, inclusive, de fatores culturais: é comum os adultos brincarem com os dentes, fazendo cócegas, fingindo morder, gerando, muitas vezes, sensações agradáveis e outras desagradáveis. Claro que esta fase também é rica de imitações...

Mas precisamos ter o cuidado de não rotular uma criança de um ano, um ano e meio de mordedor, sem compreendermos que é uma fase natural. Quando rotulamos uma criança como mordedor, divulgando para adultos e crianças que vivem com ela, a fama desta fica perceptível a todos, e a criança começa a agir de fato como um mordedor, pois socialmente, todos esperam dela esta reação.

Uma coisa é certa: todas as crianças entre um e três anos usam, frequentemente, esta conduta para se comunicar, recurso este, que praticamente desaparece quando a linguagem estiver mais desenvolvida.

Sendo assim, talvez o melhor seja não se preocupar muito com o assunto, deixar claro à criança a dor que sentimos e, principalmente, esperar que ela possa nos dizer com palavras o que tentava nos dizer apenas com as mordidas.

Cada vez que ela repete esta ação, está ampliando o seu conhecimento sobre um objeto e sobre as diferenças entre vários objetos pesos, tamanhos, texturas, formatos diferentes etc. Claro que estas experiências ensinam formas de ação para o bebê; não podemos dizer que haja elaboração e reconhecimento destas diferenças, pois isto se dará posteriormente, isto é, com a consciência do objeto.

Além destes comportamentos, várias são as formas de comunicação neste primeiro ano de vida, que implicam no uso da boca, por exemplo, aceitar ou rejeitar o alimento, chorar quando está com fome etc.

O choro varia de entonação, cada um dele com um significado diferente e os pais já sabem o que cada choro quer dizer, o mesmo ocorre com os sorrisos e o balbucio.

Depois, o bebê cresce um pouco mais e começam as mordidas, que também são uma forma de comunicação com as pessoas e uma maneira de perceber o mundo:
1º - o duro e o mole podem ser percebidos;
2º - em interação com outra criança ou com o adulto, ocorre uma mordida, haverá uma reação, ou seja, uma resposta social que, para ela, poderá ser nova e surpreendente.

Consideramos também estas formas de comunicação como aprendizagem. O novo para a criança merece repetição, principalmente, quando é reforçado.

Centro Educacional Construir