É hora de falarmos sobre o Bullying

É hora de falarmos sobre o Bullying

Houve um tempo em que não se falava em bullying. Não é que ele não existisse – o problema simplesmente era minimizado. “É coisa de criança, elas que se entendam” – esse era o pensamento corrente. E, assim, muitos adultos de hoje carregam marcas profundas de todo o sofrimento que viveram na escola, por anos a fio.

Se ainda resta alguma dúvida, vamos reforçar: bullying é um problema muito sério, que afeta a saúde mental, física e emocional de quem sofre. E não precisa envolver agressão física para ser grave – xingamentos e ameaças psicológicas também podem levar as vítimas à depressão e, em casos extremos, ao suicídio.

Mas antes de continuarmos falando sobre o tema, afinal de contas, o que é bullying? Como diferenciar o bullying de atritos e desentendimentos comuns entre pessoas, sejam adultos ou jovens?

O QUE É BULLYING?


A palavra bullying é uma expressão de origem estrangeira que pode ser traduzida como “brigão” ou “valentão”. Ela foi denominada na legislação do Brasil como “Intimidação Sistemática”.Ou seja, é a intimidação repetitiva entre colegas de escola ou de trabalho. Pode se caracterizar por agressões físicas ou verbais. Mas, também, pode ser o ato de isolar alguém do resto da turma. As ações violentas podem ser as mais variadas, mas são bullying se apresentam as seguintes características: têm intenção de ferir; são repetitivas; ganham reforço se tiverem plateia; e envolvem a submissão da vítima ao agressor.

E O BULLYING INFANTIL, COMO ACONTECE?

Na infância, diversas vezes, o bullying infantil acontece de maneira mascarada e até mesmo com a aprovação de adultos, que não veem a “brincadeira” com maus olhos.

Brincar com características físicas de forma pejorativa, excluir outras crianças em atividades sem motivo aparente e comportamentos agressivos nas crianças são alguns dos exemplos de como o bullying na educação infantil acontece.

Essas situações podem ser mais perceptíveis no ambiente escolar, todavia, não se pode excluir a possibilidade de ocorrência nos espaços familiares, na vizinhança ou em qualquer outro local onde crianças estejam reunidas.

TUDO É BULLYING AGORA?

É preciso ter calma ao generalizar porque se corre o risco de não dar a devida importância aos casos. O bullying sempre existiu e sempre foi o causador de diversos problemas psicológicos, emocionais e, eventualmente, físicos.

Muitos adultos alegam que, o que antes era considerado normal, hoje foi “problematizado” pelas novas gerações. Contudo, isso não é uma verdade.

As argumentações, discussões e até brigas pontuais entre colegas de sala, por exemplo, não podem ser consideradas atos de bullying. Isso porque bullyings escolar infantil — e qualquer outro — é uma agressão intencional, que acontece repetidas vezes e que, geralmente, ocorre na presença de espectadores.

A fala de que “tudo é bullying agora” carrega, inclusive, uma carga bastante pesada, já que, em alguma medida, ela invalida a luta pela conscientização a respeito desse problema. Por isso, é necessário cuidado!

QUAIS OS TIPOS DE BULLYING?

Existem diferentes tipos de bullying e todos devem ser combatidos, por meio da implementação de ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema, dando suporte às vítimas e também ao agressor.

1 - Bullying físico: Consiste na repetição de agressões físicas contra uma determinada pessoa. No mundo, 3% dos jovens passam por isso.

2- Bullying Verbal: São ofensas e xingamentos provocados contra um mesmo alvo. No mundo 13% dos jovens relatam já terem passado por isso.

3 - Bullying Sexual: Caracteriza-se pelo assédio ou abuso sexual sistêmico. Ex: Insinuações insistentes, insultos homofóbicos e toques sem consentimento.

QUEM SÃO OS ENVOLVIDOS EM CASOS DE BULLYING?

A vítima: em geral, é uma criança retraída e com baixa autoestima, que não consegue reagir nem buscar ajuda. Pior: ela pode até mesmo achar que o agressor tem razão e que ela merece o que está passando.

Agressor: costuma ser uma criança que não sabe transformar a raiva em diálogo e que não se incomoda com o sofrimento que causa – pelo contrário, até se sente bem com isso. Por trás de suas ações, pode haver um desejo grande de ser visto como popular e poderoso.

Plateia: são os colegas que presenciam os abusos. A plateia pode ser passiva, quando se mantém em silêncio diante da violência, ou ativa, quando a incentiva. Seja qual for a reação, serve de combustível para o agressor, que se sente reforçado pelo grupo.

UMA ABORDAGEM DIFERENTE PARA CADA UM

A conscientização é fundamental entre os envolvidos em um caso de bullying. Mas ela se dá de forma diferente com cada um deles:

Vítima: a criança que sofre bullying deve ter a sua autoestima reforçada e se conscientizar de que ninguém tem o direito de agredi-la, sob nenhum pretexto. Ela deve ser incentivada a denunciar o que está acontecendo, e ser protegida contra retaliações.

Agressor: a criança que faz bullying precisa entender a gravidade e as consequências do que faz contra o outro. É importante que ela tenha a oportunidade de tentar reparar o mal que causou.

Plateia: os colegas que assistem às agressões precisam saber que, mesmo que não aprovem a violência, ao ficarem calados, reforçam o poder do agressor. Pode dar medo ou desconforto erguer a voz, mas se todos agirem juntos, isso muda o jogo!

É importante evitar, tanto quanto possível, a punição dos agressores, privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil, ainda mais quando são crianças e jovens.

O QUE A ESCOLA PODE FAZER?

Muitas práticas podem ser adotadas pela escola que deseja implantar um programa de prevenção e combate ao bullying.

Vale dizer que ações pontuais após a identificação de um caso são importantes, mas não resolvem o problema. Para se criar uma cultura anti-bullying, as ações educativas devem ser preventivas e fazer parte da grade curricular dos estudantes.

Confira algumas sugestões:

Criação de um canal de escuta, denúncia e tira-dúvidas sobre bullying: pode ser e-mail, telefone, caixa de sugestões, contato pessoal. Mas precisa funcionar de verdade.

Educação emocional: se o bullying pode se originar da dificuldade de lidar com sentimentos, é importante aprender sobre eles. Aulas especiais, rodas de conversa, palestras com especialistas podem ser ótimas iniciativas.

Aulas específicas sobre o tema: promover bate-papos com os estudantes é sempre uma boa ideia. Provoque-os com questionamentos – o que é o bullying? Já aconteceu com vocês ou com alguém que conhecem? Qual a diferença entre bullying e brincadeira? O que fazer se sofrer ou presenciar um caso? A quais canais/pessoas recorrer na escola? Estimule-os a consolidar o conhecimento criando campanhas informativas.

Quanto antes, melhor: as ações de conscientização devem começar na educação infantil. Por mais que não consigam absorver todos os conceitos relacionados ao tema, os pequenos já podem entender que há brincadeiras que são aceitáveis e outras, não. E que, diante de uma situação de abuso, devem contar a um adulto. Um recurso possível de se utilizar é o teatro de bonecos – encenar a agressão, o sofrimento, a intervenção do adulto e a reparação pode ajudá-los a fixar as informações.

Criação conjunta de estratégias de combate: ao formular as estratégias de combate ao bullying da sua escola, que tal convidar os estudantes a fazer parte dessa discussão? Peça que eles digam como esperam ver os casos tratados e que tipo de participação poderiam ter para resolvê-los.
Criação de grupos de agentes mediadores: em toda turma há estudantes que se destacam por exercerem uma liderança positiva natural entre os colegas. Essas crianças e jovens podem se tornar agentes mediadores, identificando situações potenciais de bullying e iniciando uma intervenção – podem, por exemplo, apoiar a vítima e chamar o agressor para uma conversa envolvendo outros adultos da escola.

Uma vez caracterizado um caso de bullying, a ação de combate deve ser firme e imediata. Os envolvidos não podem sentir que esse tipo de comportamento é tolerado pela escola.

O professor como exemplo: o educador é o modelo de conduta dos estudantes. Se ele deixa barato uma agressão na sala de aula, acaba por legitimar essa ação. Ao perceber que algo errado está acontecendo, é preciso chamar a atenção na mesma hora.

O QUE A FAMÍLIA PODE FAZER?

Olho vivo: crianças nem sempre conseguem externar o que estão sentindo. Observe mudanças no comportamento. Se a criança está irritadiça, triste, desanimada, se de uma hora para outra não quer mais saber da escola, se as notas caem, tudo isso pode ser sinal de que algo não vai bem.
Ouvido atento: escute o que a criança tem a dizer, preste atenção a como ela se refere a si mesma e aos colegas. Se puder, brinque com ela – é um bom jeito de ver como ela está se relacionando com o mundo ao seu redor. Fale com ela sobre valores como empatia e respeito às diferenças. Estimule-a a falar sobre o que sente.