Hoje é comemorado o dia nacional do escritor. Com isso, gostaríamos de parabenizar tão nobre profissão e ao mesmo tempo discorrer sobre um assunto fundamental na vida de toda pessoa, o desenvolvimento e aquisição da escrita na infância.
Durante os últimos anos se debateu muito a respeito da aquisição da escrita na infância e a forma como ela é trabalhada e desenvolvida. Atualmente, a alfabetização deixou de ser encarada como um momento único e passou a ser compreendida como um processo, no qual a pré-escola (educação infantil) tem papel ativo e constitutivo. Mas, esse processo acontece mesmo antes do ingresso na escola, já no contato da criança com o mundo e no contexto sociocultural. As vivências diárias proporcionam ocasiões que favorecem a aprendizagem. A todo momento ela está sendo impactada por materiais de leitura como: rótulos, embalagens, cartazes, livros, revistas, etc. Dessa forma, ela está iniciando o seu processo de descoberta do código escrito.
Emilia Ferreiro, que se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser ligado ao construtivismo, junto com a psicóloga Ana Teberosky pelo método clínico de Piaget, observaram 108 crianças e seu funcionamento do sistema de escrita. Elas queriam entender como as crianças se apropriam da cultura escrita, criando a obra intitulada de Psicogênese da Língua Escrita, introduzida no Brasil por volta dos anos 1980 (Picolli; Camini, 2013). Elas consideram em sua obra que uma alfabetização deve ser contextualizada e significativa através da transposição didática das práticas sociais da leitura e da escrita para a sala de aula e considera a descoberta do princípio alfabético como uma consequência da exposição aos usos da leitura e da escrita que devem ocorrer de uma forma reflexiva a partir da apresentação de situações problemas nas quais os alunos revelem espontaneamente as suas hipóteses e sejam levados a pensar sobre a escrita.
Assim sendo, as crianças trazem uma série de experiências e conhecimentos sobre a leitura e a escrita quando chegam à sala de aula. Porém, sua compreensão é ainda muito restrita, necessitando da intervenção do professor para que possa ampliar seu universo em torno do símbolo escrito. Para o professor, cada produção da criança é uma forma de analisar em que momento da escrita ela está e quais são as intervenções necessárias para que ela avance nesse processo de forma espontânea e significativa, colocando em prática todo o repertório que já possui. Portanto, torna-se necessário estimular cada vez mais o interesse da criança para que, embora carregado de significados, o aprendizado não se perca no curso do tempo. A criança aprende se desenvolvendo e se desenvolve aprendendo.
Segundo Vygotsky (1991:133), "ensinar a escrita nos anos pré-escolares impõe necessariamente que a escrita seja relevante à vida (…) que as letras se tornem elementos da vida das crianças, da mesma maneira como, por exemplo, a fala. Da mesma forma que as crianças aprendem a falar, elas podem muito bem aprender a ler e a escrever".
Em nossa sociedade, a escrita desempenha um papel fundamental. Está em toda parte, e precisamos dela nas mais diferentes situações da vida. Além disso, numa sociedade em que quase tudo passa pela escrita, a alfabetização é essencial para uma melhor compreensão da realidade e é um objetivo primordial na formação de crianças que estejam aptas para viver em uma sociedade plural, democrática e em constante mudança.
A famílias também podem e devem ter um papel importante na formação dos filhos na linguagem oral e escrita. Atividades e hábitos podem ser desenvolvidos para estimular as crianças tais como leitura de livros infantis e oferecendo a possibilidade de escolha entre diversas formas de texto como revistas, jornais e livros. Brincadeiras de corte e colagem de letras e formação de palavras. Passeios a museus, livrarias, cinema, pois atividades culturais também são estímulos a leitura. Lembramos a importância da paciência e compreensão, cada um tem seu ritmo de desenvolvimento.
Fontes:
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. Trad. Jeferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 1987
FERREIRO, E. e TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1985
São Paulo Perspec. vol.14 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2000
Rede Caminho do Saber, 18 Setembro 2017