É interessante pensarmos que tão vital para a nossa vida quanto a água e o alimento, é o amor. O alimento nutre o corpo, mas o amor nutre a “alma”. O amor nos forma enquanto indivíduos e nos motiva a viver.
Se pensarmos em termos de desenvolvimento infantil, verificaremos que para a criança crescer emocionalmente saudável é necessário um “quantum” de amor devotado a ela através de ações, palavras e comportamentos dos seus pais.
Ninguém discute que o amor é essencial para a criança, mas sabemos também que não é intrínseca à condição de pai e mãe, ou seja, podemos verificar que tem pais que amam os seus filhos e outros não. Tem pais que amam os seus filhos, mas por não saberem como comunicar esse amor, seus filhos não se sentem amados. É um sentimento que foi construído historicamente.
O amor materno, nem sempre se manifestou (na história) em devoção, preocupação com o bem-estar físico, moral, afetivo e intelectual do filho. O mesmo para o amor paterno. Aliás, o que chamamos de amor paterno é uma conquista muito recente, quase que contemporânea. Hoje vemos homens trocando fraldas, brincando, passeando, conversando com os seus filhos. Vemos esses mesmos homens inseridos na família entendendo que o “lar”, a “casa” é responsabilidade de “dois”. Isso é muito moderno. E por ser tão moderno estamos ainda aprendendo a sermos pais. Na verdade, nos falta referencial, estamos construindo juntos um novo modelo de relação entre pais e filhos.
A CONSTRUÇÃO INDIVIDUAL DO AMOR
Winnicott, pediatra e psicanalista, mostrou que para a criança ter uma personalidade equilibrada e ser um indivíduo pleno e feliz, é importante que esta seja criada num ambiente bom, afetuoso e acolhedor. É preciso que a mãe seja capaz de se “vincular” ao filho.
Ele chamou de “atenção materna primária” a capacidade da mulher e mãe de se vincular ao seu bebê, ao ponto de empaticamente saber o que ele precisa. Ao cuidar fisicamente do bebê a mãe o toca, o acaricia, o aconchega e essas ações deixam “impressões” positivas no psiquismo infantil.
Mas a mãe faz mais, ela dá sentido à vida do bebê. Ela traduz sensações desagradáveis oferecendo significação e acolhimento.
O pai, vinculado à mãe e ao bebê, oferece não só a sua presença, mas ajuda a mãe no seu aleitamento. Ele é o “suporte” da mãe. Ele será para criança o “representante” do mundo externo, da autoridade e da lei.
É desse contato íntimo, constante entre pai/filho, mãe/filho que o amor se constrói e se intensifica.
Mas o amor não pode ser só “sentido” pelos pais ele precisa ser “comunicado” aos filhos.
Não adianta os pais amarem os seus filhos, se estes não se sentirem amados, ou seja, é necessário que aprendamos a comunicar o amor. Para a criança pequena que ainda não tem o domínio do simbólico, as palavras surtem pouco efeito, as ações e o “jeito de ser” dos pais é que fazem com que ela se sinta amada.
A criança precisa se sentir especial para os pais. Precisa saber que é mais importante que o trabalho, que os bens ou qualquer outra coisa. Ela precisa saber que ocupa um “grande lugar na subjetividade dos pais”. Ela precisa se sentir amada incondicionalmente. “Apesar do que eu sou ou faça o amor dos meus pais por mim não muda.”
O amor que precisamos demonstrar para os nossos filhos é o incondicional, ou seja, ele se manifesta independente da condição, “… se você fizer… eu te amo”. Na verdade a afirmativa do amor incondicional é “…. eu te amo, apesar…..”.
Os pais devem atuar como espelhos, que devolvem determinadas imagens para os filhos. O afeto é muito parecido com o espelho. Quando demonstramos afetividade por alguém, essa pessoa torna-se o nosso espelho e nós nos tornamos o espelho dela e refletimos um no sentimento de afeto do outro, desenvolvemos o forte vínculo de amor, essência humana, em matéria de sentimento.
COMO DEMONSTRAR AMOR PELOS NOSSOS FILHOS?
Através do olhar.
Olhar “apaixonado” pelo filho.
Com os olhos nós vemos e ao mesmo tempo nos comunicamos.
Comunique-se com o seu filho, olhando nos olhos dele todas as vezes que for falar.
Deixe que ele veja no seu olhar, o quanto é precioso para você.
Através do toque.
Abrace, beije, faça carinho, pegue no colo, segure na mão, encoste seu rosto no dele, faça massagem, etc.. O toque é a comunicação que é entendida pelo bebê desde o nascimento. Ele “apreende” nosso estado de humor, através de como o tocamos. O bebê se sente protegido, amparado, confortado, entendido, quando é tocado pelos pais. O toque enche o “tanque” emocional da criança.
Através da atenção.
Pare, olhe para o seu filho e esteja naquele momento totalmente voltado para ele.
Preste atenção no seu filho veja o que ele precisa, o que o seu comportamento está comunicando (pois as crianças expressam seus sentimentos através do comportamento) e o ajude “estendendo a sua mão.”
Reserve um tempo especial para fazer alguma atividade prazerosa com ele. Esteja atento para aproveitar momentos passageiros e as oportunidades que a vida oferece para dar atenção especial para o seu filho.
Através da palavra.
Converse com o seu filho.
Cuidado com o que fala e a forma como fala para o seu filho. Não fale só do lado negativo do seu filho, mas, sobretudo do positivo. Transmita otimismo, perseverança, amor pela vida, resistência à frustração quando tiver que apontar um erro do seu filho. Encare os erros como oportunidades de crescimento. Corrija a ação e não a criança. Use palavras adequadas, sem rancor ou raiva na hora de disciplina-lo. Conte sua trajetória de vida, como você superou seus medos e dificuldades.
Use palavras encorajadoras, positivas, construtivas.
Fale que o ama e o quanto ele é importante pra você.
POR QUE DEMONSTRAR O AMOR?
Como dissemos acima não adianta nós amarmos os nossos filhos, eles precisam se sentir amados. Quando a criança sente que é amada incondicionalmente pelos seus pais ela formará uma auto-imagem positiva de si mesma. Terá também uma auto-estima positiva.
Auto-estima “é a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau.”
Auto = por si próprio, independente.
Estima = sentimentos, afetos, consideração.
A auto-estima é valorativa enquanto que a auto-imagem é descritiva.
Autora: Glaucia Ribeiro Roxo, Diretora Pedagógica do CEC.
Segundo Coopersmith, as crianças não nascem boas ou más, espertas ou estúpidas, amáveis ou não. Elas desenvolvem estas ideias. Elas formam auto-imagem baseadas fortemente na forma como são tratadas por pessoas significantes em suas vidas, por exemplo, os pais, professores e amigos.
Para que os nossos filhos construam uma auto-estima positiva é necessário que eles se sintam amados e incentivados a crescer.
Cada conquista deve ser celebrada. O primeiro passo, a primeira palavra, o primeiro dia na escola, a ajuda na confecção de um bolo, a mesa colocada, a boa nota na prova…
É importante que a criança sinta que ela é capaz e que pode realizar. Ela precisa exercitar sua autonomia. Quando superprotegemos impedimos que a criança conquiste por si própria o que vai dando a sensação “de não ser capaz de realizar sem a ajuda de alguém”. Desanimamos a criança e enfraquecemos o seu ego.
A auto-estima positiva está relacionada com a capacidade que temos de nos relacionarmos com os outros, com as nossas conquistas individuais e profissionais, com a sensação de nos sentirmos bem conosco mesmo.
Desta forma, percebemos que é através da fala e das ações dos pais que as crianças constroem a imagem que tem de si próprias. Quanta responsabilidade!
UMA ÚLTIMA PALAVRA
Ser pai e mãe é um grande desafio! É aprender, desaprender, reaprender sempre. É se questionar e se avaliar constantemente. É nunca desistir e achar que “não há solução”. É amar incondicionalmente. E, sobretudo, ter em mente: este é o maior projeto que um ser humano pode realizar!
Autora: Roxo de P. Souza Ribeiro, Gláucia. São José dos Campos, Março/2020.
Diretora Pedagógica do CEC