Continuamos a série de 4 postagens com uma lição por mês falando sobre a relação dos pais com seus filhos e de como tornar essa relação a melhor e mais proveitosa possível, desenvolvendo crianças com laços emocionais fortes, estruturados, com autonomia e mais preparados para os desafios atuais.
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A quarta e última lição, que está hoje no nosso blog, diz respeito à um assunto que ainda é visto como tabu para algumas famílias. Pois tira os pais de uma zona de conforto, os colocando em uma situação de dúvida e até insegurança.
“Como falar sobre sexo com nossos filhos?”
Esse tema faz parte do desenvolvimento humano e a conscientização sobre o próprio corpo e as formas de relacionamento devem ser tratados desde pequenos, pela exploração, vivências e aprendizados em uma construção de duas vias, escutando e aconselhando.
Nós existimos no mundo através de um corpo. Nós habitamos um corpo. Ele é fonte de grande prazer e também de sofrimento. Que sensações maravilhosas sentimos num abraço afetuoso de um velho amigo! Como revivemos (na pele) certas lembranças; como as mãos carinhosas de nossas mães num delicioso “cafuné”. O corpo traz impresso uma história. A nossa história! E nos comunicamos com os outros através dele.
Nosso corpo também sofre. Sofre as nossas dores emocionais. Sofre com a nossa falta de limites (alimentação, trabalho, vícios). E tudo aquilo que não conseguimos expressar através de palavras ou sentimentos, vai ter morada em algum lugarzinho do corpo.
O nosso corpo é por natureza erógeno. Cada pedacinho dele foi projetado para nos trazer sensações prazerosas, sem falar é claro da região genital, zona estritamente especializada quando o assunto é prazer.
Conhecer o nosso corpo, não pode ser muito diferente de se conhecer. Saber lidar com sua sexualidade é fruto de conhecimento pessoal. Nascemos seres sexuais e procuramos um outro pra nos completar; “ a tampa da panela”.
Construímos família para sermos felizes e vivermos satisfatoriamente a nossa sexualidade. Como resultado dessa união de amor nascem os filhos. Seres sexuais como nós. Queremos que eles sejam felizes e que não passem por certos eventos na vida, como uma gravidez indesejada. É nossa tarefa educa-los para a vida. E, educar pra vida é falar de sexo com eles.
Então, como falar de sexo com os nossos filhos? Muitos pais devem se perguntar, visto que muitos aprenderam “por conta própria”, não tiveram nenhuma conversa a respeito disso com seus pais e se sentem despreparados pra tratarem sobre isso com os seus filhos. Neste encontro pretendemos conversar sobre algumas dicas que podem ajudá-los nesta difícil e maravilhosa missão.
“Eis no que resume o problema da educação: no específico campo da sexualidade, mais ainda que em qualquer outro, estou convencido de que todo o trabalho dos pais consiste em observar o desenvolvimento da criança e adaptar-se a ele, em vez de lhe impor um padrão rígido, definido só por eles. Os pais devem ser testemunhas da evolução sexual de seu filho. Testemunhas pudicas e respeitosas, nunca intrusas, capazes de manter a boa distância que tranquiliza e protege.”
(Marcel Rufos, Tudo o que você jamais deveria saber sobre a sexualidade de seus filhos.)
Em primeiro lugar: O por que devemos falar de sexo com os nossos filhos.
1- Vivemos numa sociedade altamente erotizada. A criança é exposta a conteúdos sensuais e sexuais o tempo todo. É preciso dar-lhes ferramentas pra lidar com essa realidade satisfatoriamente;
2- Ajudar a criança a conhecer o seu próprio corpo;
3- A criança bem informada terá maiores chances de saber lidar com a sua sexualidade;
4- Dentro de casa a criança recebe informações corretas, sem mitos ou preconceitos;
5- Quando não se tem um espaço para falar sobre sexo claramente e elaborar suas dúvidas, a criança cria fantasias que geram ansiedade, conflitos internos e medos;
6- A criança se sente mais tranqüila porque tem suas dúvidas sanadas;
7- A criança passa a conhecer melhor o próprio corpo;
8- Proteção contra o abuso sexual.
Em segundo lugar: Como falar com a criança?
1- Fale com naturalidade;
2- “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço…” – Mostrar (através do comportamento dos pais) contradição entre o que é dito e o que é vivido;
3- Manter uma atitude positiva diante do assunto;
4- Responda de forma clara, simples e objetiva;
5- Use palavras do vocabulário da criança;
6- Responda de imediato;
7- Seja franco, honesto e sincero;
8- Responda ao que foi perguntado;
9- Ouça seu filho;
10- Não crie respostas fantásticas;
11- A conversa é responsabilidade do casal parental (pai e mãe);
12- Indique um livro (quando necessário).
Esse papel de construção do autoconhecimento e do desenvolvimento das questões relacionadas a sexualidade não depende apenas da família, mas também da escola.
É no ambiente da escola que as crianças passam a maior parte do dia e que tem contato social com os amiguinhos e amiguinhas e onde aprendem a conviver com as diferenças. Elas lidam com a questão das diferenças físicas e igualdade de gênero, aprendendo o respeito à diversidade e quebra de clichês e paradigmas. A escola deve explicitar as regras da sociedade em que estão inseridas e a importante diferença entre o público e privado, garantindo que as crianças não sejam repreendidas por determinados atos como por exemplo a masturbação, mas sim ensina-las que ali não é o lugar correto para aquilo.
Trata-se de um enorme desafio, preservar a intimidade e não culpabilizar as crianças por manifestações de sexualidade. É um processo educativo que aborda valores, diferenças individuais e grupais, de costumes e de crenças.
Fontes:
Rufo, Marcel. Tudo o que você jamais deveria saber sobre a sexualidade de seus filhos. 1ª Edição. Martins Fontes 2005.
Revista Nova Escola