Cuidar do filho, satisfazer suas necessidades, não deixar que se exponha a perigos desnecessários, isto é comum a todas as mães. Só que este desejo de proteger pode ir longe demais, tornando-se uma verdadeira armadilha. Para que o bebê aprenda a andar terá que levar alguns tombos. Para que a criança consiga atravessar uma rua com segurança certamente haverá os riscos de uma primeira vez. Não corte as asas do pequenino quando ele mais precisa delas para voar em direção à vida. É preciso dar muita atenção a este assunto.
Você é superprotetora? “Eu? De modo algum…”
A resposta vem rápida e firme. “Imagine! Desde quando excesso de amor é superproteção?” Este tipo de comportamento é bastante comum, encontramos em cada esquina. Vamos rever a situação com calma. Se você é o tipo de mãe que não consegue olhar para outra coisa a não ser para o que o seu menino faz, se não consegue pensar em nada, além do lugar onde o pequeno está naquele momento, se não consegue se interessar por algo diferente do que o bem-estar de sua criança, abra os olhos: aí estão fortes indícios de superproteção.
Nós sabemos que você quer o melhor para seu filho, mas na verdade pode estar transformando aquele serzinho tão querido numa pessoa insegura, incapaz e inconveniente. E o que é pior, num adulto solitário. Talvez você nunca tenha pensado nisso com seriedade, pois vive tão ocupada com os cuidados maternos…. Então, quem sabe chegou o momento?
Pare um pouquinho e pense em como anda o mundo em que vivemos. Será que existe espaço para os tímidos e inseguros? Pode uma pessoa, que se considera incapaz, ser bem-sucedida na vida? Parece meio difícil, não é? Se é assim, dê uma chance ao seu pequeno. Deixe que descubra suas potencialidades e seus próprios caminhos. Apostamos que ele vai sentir a importância desta decisão, como sabemos também que vai amá-la para o resto da vida. Não era isto mesmo que você queria?
O que é superproteger?
“Filhinho, não sobe aí. Cuidado! Assim você vai cair. Eu não disse? A mamãe avisou. ” Esta cena é tão conhecida, que pode fazer parte da rotina de qualquer família. Todas nós temos a sensação de já tê-la visto antes. Se observarmos bem, nestes momentos que parecem tão corriqueiros, a mãe já está superprotegendo sua cria.
Geralmente, a vida das mães é muito tensa. Muitas delas imaginam que um perigo inesperado pode estar sempre rondando a tranqüilidade de seus filhos. Por isto, sentem medo do que não podem evitar e se tornam obcecadas pela saúde das crianças, pela qual se imaginam responsáveis. Sendo assim, não é de espantar que vivam esgotadas pelo esforço físico e emocional que essa tarefa lhes causa. Na maioria das vezes, pensam que estão zelando pela segurança de seus bebês, mas a realidade é outra.
Vejamos o caso da mãe de um menino de seis meses que está começando a sentar e, em conseqüência disto, a explorar mais o espaço em volta. Temendo que o pequeno perca o equilíbrio e bata com a cabecinha no chão, a jovem mãe permanece o tempo inteiro atrás dele, protegendo-o, embora na verdade não chegue perto do filho. Enquanto isso, o neném brinca sozinho. Quem sabe, querendo mais a parceria querida da mamãe na brincadeira, do que este zelo, em muitos momentos desnecessários. A superproteção aparece nos primeiros dias da relação mãe e filho e, às vezes, pode representar um distanciamento entre os dois.
A proteção necessária
Pode ser que neste momento você já esteja sentindo alguns sintomas de ser superprotetora. É bem provável que seu primeiro questionamento seja: “Por que fiquei assim? Sempre abominei a idéia de me tornar aquela mãe insuportável, que não larga os filhos um só instante…”. Não se desespere, vamos descobrir o que a levou a agir desta forma, pois nada acontece por acaso. Inclusive, existe um dado importante que certamente vai tranqüilizá-la: as mães não têm intenção de superproteger e nem de longe imaginam que isto possa prejudicar suas crianças. Seu primeiro objetivo é fazer o melhor por elas e, disto, todos nós sabemos.
Então, por que sou assim? Vamos pensar: a proteção é necessária, face aos perigos do mundo externo. E toda mãe tem consciência disto. No entanto, o fator super está relacionado com outro perigo que não é externo e sim, interno, ou seja, que está dentro de nós. Existe um mundo das emoções que se manifesta em todos os relacionamentos, mas nós o desconhecemos. Vamos identificá-lo? Muitas vezes temos medo de certos sentimentos – absolutamente normais e compreensíveis: a raiva, o ciúme, a indiferença e a rejeição – que sentimos também por nossos filhos. Portanto, quando superprotegemos os pequenos, podemos estar querendo preservá-los dos perigos de nossos sentimentos e desejos inaceitáveis.
Parece complicado? Vamos explicar melhor. Aquele pavor constante de que nosso filhinho role pela escada e se machuque, pode corresponder ao medo de que nosso desejo de que ele desapareça, se torne realidade. Ai, como é duro ouvir isso! Mas se buscar no fundinho de sua memória, vai lembrar “daquele dia” em que as crianças estavam insuportáveis e você, sem a menor paciência. Responda rápido: qual foi a sua vontade naquele momento? A meninada cansa mesmo, portanto, pensar assim não é um crime.
Veja outro motivo para que isto aconteça. Quando superprotegemos e fazemos tudo por nosso pequeno, imaginando que estamos dando o amor que merece, também estamos desejando que ele nos tenha como grande objeto de seu amor. Ou seja, queremos ser uma pessoa especial para ele e, ao mesmo tempo, esperamos que represente para nós um amor seguro, certo. Queremos ter a garantia inabalável de alguém que nos ama. Todos nós carregamos o desejo de ter alguém que nos ame devotadamente pela vida inteira.
Será que existe espaço para os tímidos e inseguros?
Através da superproteção, sem saber podemos estar tentando seduzir nosso filho, para ele seja esta pessoa. Este tipo de comportamento materno, porém, visa uma verdadeira prisão para o pequeno.
Se desde cedo a criança tem sempre alguém que quebra todos os seus galhos e faz tudo no seu lugar, um grande perigo se instala: ela nunca poderá saber do que é capaz. Não terá as chances de que necessita para se afirmar. Não poderá mesmo acreditar que é capaz de realizar uma simples tarefa, como subir uma escada sozinha. O pequeno pensará: “a mamãe sabe tudo, pode tudo, sem ela não sou ninguém. Sozinho, não consigo nada…”
Conseqüência imediata deste tipo de situação? A criança tende a se transformar numa pessoa insegura. Sabe aquele tipo que sempre se acha no direito de obter favores das pessoas, agindo como se o mundo estivesse a serviço de suas necessidades? Certamente, você já encontrou alguém assim. Pode estar quase certa de que, na infância, esta pessoa foi superprotegida.
E mais, pela intensidade da relação, o pequenino imagina que só a mamãe tem superpoderes para protegê-lo. Portanto, caberá a ela um lugar privilegiado em seu coraçãozinho. Anos depois, quando natural seria interessar-se por outra pessoa – inclusive um parceiro amoroso – sentirá muita dificuldade, porque certamente não encontrará no outro, um ser real; de carne e osso, os superpoderes da mamãe. O risco é de que nunca ache o parceiro ideal e de que fique sozinho sem a possibilidade de viver uma relação afetiva e sexual, onde seja capaz não só de ser protegido e receber como também, proteger e dar.
O mito da mãe perfeita
Atualmente, a sociedade exige das mulheres uma atitude ideal, colocando em nossas mãos a felicidade dos filhos. Este é um fardo pesado que, às vezes, nos forçamos a carregar a custa de muito sofrimento. Em meio a esta confusão que se instala na cabeça da mãe, ela acaba superprotegendo os pequenos. Por quê? Para corresponder a esta verdadeira ditadura social de uma mãe perfeita. Neste caso, a situação costuma se inverter e passamos a ser – na verdade – as maiores vítimas.
É difícil mudar, porque este comportamento faz parte de uma história que começou há muitos anos, quando as mães eram também crianças. E, os personagens principais, suas próprias mães e toda a família. Tudo se repete. Se ninguém as protegeu, no passado, elas podem cobrir os filhos de atenções para evitar que sintam a dor do abandono. Se foram sufocadas poderão tender a sufocar também, pelo medo de mudar a educação “dos meninos” e de não acertar.
CEC – Centro Educacional Construir